Diário de Bordo: Chile - Parte I
- Rafaela Costa
- 23 de mar. de 2017
- 8 min de leitura
Entre as coisas que mais amo nesse mundo uma delas é viajar. Não tem coisa melhor, né mores? Mentira, tem sim.. mas viajar está entre as melhores. Foi pensando nisso que tem algum tempinho que quero fazer um post falando sobre esse assunto. Então, pedi a minha best friend e colaboradora do blog para fazer alguns postagens falando disso. Assim como eu, ela ama viajar e já foi em muuuitos lugares bacanas. E quem pensa que precisa juntar rios e rios de dinheiro está muito enganado. A maioria das viagens da Rafa foi através de bolsa ou juntando um dinheirinho. Nada melhor do que se programar pra realizar nossos sonhos né?
A última viagem dela foi para o Chile em janeiro desse ano e ela vai contar tudo pra gente. Como foi a viagem, como ela conseguiu a bolsa e dar dicas de hotéis, restaurantes e passeios. Já está louco pra ler tudo que eu sei né? (risos). Eu também, confesso. Essa é a primeira postagem de uma série de três postagens que vão rolar por aqui ao longo do mês. Então corre pra ler tudo porque foi feita com muito carinho pra vocês!!!
Uma bolsa de estudos que me levou para a capital chilena
Rafaela Costa
Amante declarada do castellano e da América Latina, devo assumir que o Chile, um dos países sul-americanos que não faz fronteira com o Brasil, sempre me atraiu por inúmeros motivos. Um deles, sem dúvida, é pelas suas paisagens naturais extraordinárias, dignas de aparições majestosas na NationalGeographic. Há anos sonhava com uma visita ao país de Pablo Neruda e Víctor Jara e essa oportunidade surgiu no final de 2016, ao tomar conhecimento de uma bolsa de estudos para participar do programa Institute for Leadership in theAmericas, que ocorre em janeiro de cada ano na prestigiada Universidad de Los Andes, em Santiago, capital do país.
Como incansável caçadora de bolsas de estudos no exterior, busquei me informar mais sobre o programa no site do The Fund for American Studies (TFAS), organização norte-americana responsável pela concessão da bolsa e pelo conteúdo programático que é apresentado ao longo das duas semanas de curso.
Para mim, melhor que viajar para conhecer outros cantos desse mundão, é fazê-lo conciliando com estudos. Me atraiu muito a proposta multicultural de reunir aproximadamente 50 jovens do mundo inteiro, interessados em debater sobre política e economia e outros assuntos emergentes. Era de fato a oportunidade perfeita para fazer as malas e ir ser feliz no lado do continente banhado pelo Pacífico. Mas, calma lá! Também não foi assim tão fácil, né? Se não, cadê a graça?!
Primeiro eu submeti um application online e solicitei uma carta de recomendação de um ex-professor (Benevides, seu lindo, obrigada!). Vale ressaltar que, apesar de ocorrer no Chile, todo o processo acontece em inglês – tanto a fase de seleção quanto as aulas na UANDES.
Quinze dias depois,recebia um e-mail anunciando que fui aprovada na primeira etapa e sendo convidada para o agendamento de uma entrevista por Skype, com o responsável em Washington, D.C. pela organização do programa. Na entrevista, além de abordarmos alguns pontos do meu currículo e do que declarei no application, também falamos de coisas mais descontraídas e me senti bastante à vontade com o Steve, meu entrevistador. Algumas semanas depois recebia a notícia de que havia sido contemplada com uma bolsa de dois mil dólares (é importante destacar que a bolsa, pelo menos para brasileiros, não costuma ser integral e os critérios para definir o valor a ser concedido são mérito acadêmico e necessidade financeira, apresentados na primeira etapa do application). O valor total do programa consiste em dois mil e quinhentos dólares americanos e o valor restante pode ser pago de diversas formas ao TFAS.

(Turma de 2017 – ILA – eu estou no centro da foto, no terceiro nível)
Passado alguns dias, eu embarcava em uma das viagens mais inesquecíveis da minha vida. Desembarquei na madrugada do dia 6 de janeiro no Aeroporto Internacional Comodoro Arturo Merino Benítez.

De lá, peguei um transfer que me levou até o bairro da Providência, num apartamento super simpático que aluguei no Airbnb para passar minhas primeiras duas noites. Mais simpática ainda era minha anfitriã, JesucillaContreras. Apesar de tão pouco tempo, adorei a energia dela. Só não tenho como recomendar a hospedagem pelo fato de que ela estava deixando o apartamento no dia em que eu fazia meu check-out. Eu estava começando minha aventura e ela estava indo dar início a dela, pelo sul do país, em busca de seu sonho e de um novo recomeço na vida. Toda a sorte do mundo pra ela (e eu sei que tá dando super certo porque a gente se acompanha no Facebook).
Eu estava ansiosa pela programação que escolhi para o primeiro dia. Além, claro, de tentar conseguir um mapa e de buscar uma casa de câmbio com boa cotação, eu planejava passar a tarde no Museu da Memória e dos Direitos Humanos. Primeiro, troquei meu dinheiro numa casa de câmbio próxima a estação de metrô Pedro de Valdívia e depois peguei o metrô até a estação Quinta Normal, onde justo em frente, está localizado o Museo de la Memoria y losDerechos Humanos. Era um dia de sol forte e muito calor em Santiago. Diferente do arcondicionado congelante do metrô do Rio (quando funciona, é claro), em Santiago o metrô não tem ar, no máximo uns ventiladores que não dão vazão e o trem circula com as janelas abertas por baixo da terra. O calor é infernal, inclusive porque, no verão, Santiago chega a fazer tanto calor quanto no Rio, só que ao invés da umidade que eu, carioca, já estou habituada a respirar, lá, o ar é bastante seco.
Foi imediata a sensação de ressecamento no nariz. Além disso sentia bastante ardência nas narinas todo eltiempo. A melhor coisa é andar com um soro na bolsa.
Para utilizar o metrô, é necessário comprar um cartão chamado BIP Card. Ele custa CLP 1550. E além disso, você precisa carregá-lo com o valor que você julgar necessário. Ele pode ser utilizado no ônibus também, mas o único transporte público que eu utilizei por lá foi o metrô.
Na estação Quinta Normal, tem um lindo parque, de mesmo nome, com bastante sombra e banquinhos para descansar. Antes de seguir para o museu, dei uma caminhada pelo parque só para admirar sua beleza e o quão bem cuidado estava. Parti então para minha primeira programação do dia. Ao sair do parque, já avistava do outro lado da rua, imponente, o museu com sua estrutura de cobre e vidro.

Eu soube desse museu semanas antes de viajar. Estava assistindo a um programa de viagens do qual não me lembro o nome, no GNT e a apresentadora, por acaso, estava no Chile. Ela se emocionou bastante com o que viu no museu e eu imediatamente decidi que tinha que conferir de perto também.
Até 2013, pouco sabia sobre a história do Chile. Mas, após ganhar uma outra bolsa de estudos naquele ano para um programa incrível (penso em falar dessa bolsa para vocês em breve também), acabei tendo a oportunidade de conhecer e conversar, nos Estados Unidos, com Ricardo Lagos, ex-presidente socialista do Chile, que governou o país de 2000 a 2006. Além disso, tive o privilégio de assistir e debater com esse mesmo ex-presidente sobre o filme NO, estrelado pelo Gael García Bernal e que conta a história do plebiscito de 1988, no qual a população foi convocada a decidir se desejava continuar com o governo GOLPISTA de Pinochet, que estava no poder desde 1973, ou dar fim ao regime ditatorial implantado naquele país há mais de uma década.

(filme retrata a campanha que levou ao final da ditadura de Pinochet)

(com o ex-presidente Ricardo Lagos na prestigiada Brown University, em RhodeIsland – Estados Unidos - eu sou a de blazer vermelho)
O que podemos ver no museu é toda essa história contada a partir do onze de setembro chileno. Como o assunto é do meu interesse, percorri com calma cada detalhe da exposição permanente.Para mim, o momento mais emocionante foi, sem dúvidas, o que mostra as cartas das crianças chilenas à época. Tanto as que foram para o exílio junto com suas famílias quanto as que tiveram familiares desaparecidos nesse período lamentável da história do Chile. Impossível não se sensibilizar com o que está exposto ali naquelas cartinhas cheias de inocência, tristeza e dúvida quanto aos seus futuros.

(“Pinochet, velho feio” e “Onde está meu papai?” é o que expressa uma das crianças da época)

(carta da pequena Elizabeth, que deseja que o ditador Pinochet e sua filha, Lucia, saiam do poder)
Diferente da maioria dos museus que já visitei, este possui ampla iluminação natural, propiciada pelas paredes de vidro. Numa parte dessas paredes, há um painel de 17 metros com fotos de várias vítimas da ditadura (há um computador onde é possível consultar o nome de cada uma delas). Além disso, nas partes em que a parede é de concreto, o tom sempre é branco e há luminárias simulando velas por toda parte. Foi explicado que todas essas características são propositais para reforçar a ideia de levar luz a um período tão obscuro.


Vale a pena passar algumas horas neste museu aprendendo sobre essa fase da história do nosso vizinho e relembrar o quão devastadora e desumana uma ditadura é para a sociedade (não que não tenhamos vivido a nossa própria, mas nunca é demais reforçar que isso jamais deve se repetir, assim como não pode voltar a representar uma ameaça para nenhuma democracia). Recomendo a visita com toda a certeza.
Ao sair do museu, decidi que o final daquela tarde seria um excelente momento para subir os 61 andares do mirante mais alto da América do Sul. Com seus 300 metros de altura, o Sky Costanera é uma atração recentemente inaugurada (agosto de 2015).
Quem viaja comigo ou acompanha minhas viagens, sabe: onde tem um mirante, eu estou subindo! Não pude deixar de lembrar de quando subi o Empire State em 2013 e a Torre Latinoamericana, na Cidade do México, em 2014. A vista da Torre Sky Costanera também é incrível. Mas uma pena que seja totalmente protegida por vidros, o que atrapalhou bastante algumas fotos. No dia em que subi me foi cobrado dez mil pesos, pois era uma sexta-feira. De segunda a quinta, custa a metade do preço.
Foi lá, do alto dessa estrutura que permite uma apreciação em 360º e admirando a Cordilheira dos Andes, que fui vendo as horas passarem e descobri que, no Verão, os santiaguinos ganham um presentão daquele solzãolindão: ele só começa a ir embora lá pras 21:30. Seria o meu sonho ter essa possibilidade no Rio de Janeiro. Aqui, nem com o horário de verão, chegamos a tanto. Sei que muitos não se animam com a ideia, mas para mim, seria um privilégio maravilhoso ter tantas horas para curtir dias lindos como os que eu vivi naquelas três semanas.
Depois de tirar milhares de fotos de todos os ângulos possíveis daquela paisagem encantadora, me sentei no chão, colada ao vidro, junto com um grupo de jovens portugueses que fizeram a gentileza de me tomar algumas fotos, para apreciar o meu primeiro pôr do sol em solo chileno – e não poderia ter começado de forma mais especial a minha estadia por lá.

(admirando a cidade, com sua paisagem sempre emoldurada pelos Andes)

(podem acreditar: já eram quase dez da noite quando tomei essa foto)
Bem, por hoje é só. Na próxima semana, eu continuo contando sobre uma das melhores viagens que eu fiz na vida. Não deixe de acompanhar porque vou continuar dando dicas de lugares incríveis e contando nos mínimos detahes tudo sobre minha viagem. Como o blog não permite comentários nas postagens, se você quiser saber algo que não deu pra falar aqui, pode perguntar na postagem do Facebook ou do Instagram que respondo com o maior carinho. Até semana que vem!!
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